terça-feira, 22 de abril de 2008

Amanhã é dia 23

Amanhã é dia 23, não haverá tempo para escrever. Amanhã planeei o meu dia para simplesmente ir fazer quatro horas e meia de carro, com cd's atrás de CD's.
Podia ser o homenzinho que todos os dias acorda às quatro da manhã, para às cinco estar na tipografia industrial a apanhar os jornais, só aqueles fixes, os outros tipo O Crime e assim não queria, e metia-me na minha carrinha a ouvir música, quando não há ninguém, quase ninguém na estrada, e vagueava por aí, a ouvir música, papelaria atrás de papelaria, cidade atrás de cidade.
Só não podia era ir ver o Nick Cave como fui ontem, porque tinha que me deitar bem cedo.
Pois, pensando melhor perdia-se muita coisa. Não podia ouvir acordeão no miradouro de São Pedro de Alcântara quase de manhã, quando fiz anos. Não podia ir à escola de manhã e quando não houver carros, não perdia o meu emprego, ou quando os jornais de hoje em dia passassem a ser meros cromos de colecção como as cartas de correio que deixei encravadas na gaveta são, também não ficava sem emprego.
Pois, se calhar é melhor ficar assim.
Tantas coisas que se perdem quando temos que escolher. Tantas coisas que se ganham, está bem. Os pássaros mudam de ninho todos os anos? Não sei, estou a especular, mas a não ser que viesse uma daquelas velhas beatas e me fodessem o ninho que tinha feito escondidinho na calha da chuva em casa delas, eu ficava por lá.
Dig, Lazarus, Dig.
Gostava de não ter que escolher, muito menos que escolhesses por mim. Será que só eu é que vejo que se perde sempre alguma coisa quando se tem que escolher? Porra, se eu tiver uma maçã e uma laranja para comer e só comer a maçã, tive que escolher, não é? Sim, está bem, podia comer as duas, é?
A cena é que depois quando tiveres fome, nem a maçã tens, nem a laranja.
Eu pessoalmente só prefiro as maçãs por serem mais fáceis de comer, não tenho jeito para descascar laranja, mas são mais docinhas. Ena pá, que complicado só por causa de ter que escolher entre comer uma maçã e uma laranja. Tanta merda, bastava parti-la ao meio, qualquer uma, e comê-la contigo.
Agora, há coisas que não quero escolher, há coisas que escolho fazer, e há coisas que quero que escolham para mim.
No que a mim me cabe, vou andar de carro amanhã.
E fazer uma máquina agora.
E pôr uns tapetes a apanhar sol, ou a arejar.
E escrever isto, já tinha decidido.
E estudar, escolheram por mim que hoje não me apetece.

Bom dia, amanhã é dia 23.

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