domingo, 23 de março de 2008

Mais uma data a recordar, só porque hoje é 23.

"Ouve-se a mudança na maturação, nas notas que ganharam cãs. No primeiro som há na garganta um corte de ar. Tudo soa ao ácido da infância que agora não acreditamos que existiu, que matámos com sorrisos quentes de um corpo ainda não nosso, arrastado num slow. Começamos a tirar agora as máscaras dos dias quase felizes. Molas de madeira que prendem no estendal os resquícios dos anos, dos cheiros, dos sons e cores… a corda? A corda de sisal, do estendal, cria em movimento gémeo ao som. Pequenos rasgos na pele, por cima da cicatriz que acabou de fechar. São outros os dias que nos prostituem o corpo e fazemos contas às rugas, numa só mão, que valeram a pena.

A porta fecha-se sem estrondo. O dia não vai ser igual, o dia não pode ser igual, o dia não pode ser igual… embora amanhã vá na mesma acordar sem conseguir fugir, refém de mim." .

Samanta Velho

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