quinta-feira, 1 de março de 2007

"Então querida, como foi o teu dia?" (voz grossa)

Tu.
Comecei assim por ter escrito e apagado imensas palavras por não saber onde começar.
Estás ocupada, procurei solução para te alcançar e te dar a mão assim.
Eu já acordo a olhar o telemóvel a procurar-te, e tomo banho com ele no alpendre. A seguir, vai para a bancada onde lavo os dentes e lembro-me de ti de novo. Desço, vejo o telemóvel, "está no bolso, bora.". Chego à paragem, "foda-se, esqueci-me dos passes.". Coração, telemóvel, confere. Cabeça, livros, dinheiro que já me aconteceu não comer, boxers virados do avesso, coisas que ficam em casa e outras que vão ao contrário, portanto. Alcabideche. Depois no início da linha é a praia das mãos entrelaçadas e o 23 na outra estação. Tu a ralhares por ires a dormir e te acordar 'pra sairmos, tipo quem tem mau acordar, sabes? Mesmo bonita essa tua birra desse dia. No cais, és tu perdida sem saber 'pra onde ir, e eu a dizer-te que puseste os pés ali e eu lá os ponho, portanto, varia a frequência, só. Entre ruelas e ruelas, cheira pouco a cá, cheira-me mais a quando cá estamos. Porra, o carro fazia tanta diferença.
Maldita luz que entra por a minha janela adentro, molha-me em vez de me secar.
Hoje também me arrepiei a ouvir a trouble, música que a gente devia ouvir tipo proveniente de um narrador omnipresente, do género, a gente começa a descarrilar e aquilo como que tocava dentro do miolo, não era?
Ah, e depois era eu a lembrar-me do "Yeah! How long must you wait...", outro sorriso que me rasgava aos arrepios. Eu tinha isso gravado no telemóvel, era tão giro...
Onde é que eu ia? Cais, pois. Ah, nas ruas. Já viste o que encontrámos cá sem querer? Fomos ao velhadas e encontrámos arte sem querer.. Já tinhas visto o teu nome escrito em água?
"Essa é a água do mar mais bonita que já vi."
Pera, lembrei-me do que escrevemos na areia das férias à noite, que veio o mar guardar nele depois, lembras? E a Cassiopeia e o catano...
Ah, e eu que procurei por todo o lado o pin? Há tudo cá. Bem, quase tudo, gostava muito que para o ano houvesse cá tudo por toda a parte.
Olha, ando perdido, sabes disso. Tenho eu a culpa? Tens tu? Estamos desencontrados. Estamos desencontrados mas não te falo destes past events como past events, acho que a operadora nacional móvel me cortava as mensagens se te dissesse de tudo que me faz sorrir por causa de Ti por dia. Anyway, olha, acabou de entrar no msn uma Filipa que não sei quem é, o curioso era que a imagem era o último postal que trocámos. Sinais do Outro Lado. Pronto, e eu acho que eu andar desocupado não faz juz nenhum ao que se está a passar, porque estou parado por causa disto, não estou a gozar por causa disto, de nós, daí te dizer isso. Não fosse este alarido desnecessário e este bater assim para doer aonde, e eu já te ensinava o que era, entre outras, física clássica, determinantes vectoriais, operações em Rn, integrais, química orgânica, e te contava que achei imensa piada ao meu professor de Bioquímica dizer que nós somos meros seres consumistas de energia, e que funcionamos sobre a regra dos 3. Obviamente que só não contestei a teoria dele para lhe dizer que eu funciono com uma regra 7 vezes menos 1 superior à dele para já porque é professor universitário, e segundo porque gozou com quem lhe fez perguntas, era o meu ego a ir com o galheiro. Olha, estou muito mais quietinho agora, estou a falar contigo e não sabes.
Pronto, e fujo constantemente ao grito de ipiranga que estamos a conter. Intuitivamente, ou sem querer, porque tipo, lembro-me mais depressa de coisa bonita. Mas tenho medo, O Outro Lado, tenho medo de que nos deixemos de ouvir, por causa de adjectivos que não devem entrar neste lugar.
Somos feios um para o outro, e tu sabes. Às vezes, claro que sim, mas epa... Aquele abraço que me falaste? Quantos mais vamos dar para aquele ser esse? Quando é que sabes que é? Quando é que sei que é? E se tudo se vai resolver com um abraço, tenho sempre razão quando quero a mão para pararmos de discutir? É uma chupeta de bébé? Vai à boca e parou a berraria? Acredito. Mas também acredito, e mais, que quem anda descalço, habilita-se a pisar bosta, e nós, O Outro Lado, somos descalços um para o outro. Talvez devessemos avisar-nos mutuamente do poio que o outro vai pisar, em vez de gritarmos um com o outro por não ter dito que estava ali o coiso.
Maneira estranha de o pôr, mas propus-me a não apagar nada do que escrevi, assim sou-te genuíno, e vês-me descalço. Ai, transparente.
Um pouco como as pingas da rua que desce para tua casa. Não é um grande drama se não te desviar, mas procuro fazê-lo.
Sente necessidade, eu sinto, e dói-me muito que não a sintas e que tão brandamente mo digas.
Sinto necessidade, tu sentes, de não te apertar a mão com tanta força. Sei que não solta.
Vamos comer mais chocolatíssimos, vamos escrever mais, ver mais e sentir mais, e trabalhar mais! Não nos vão dar a felicidade que procuramos de maneira fácil, nada fácil até, mas é meu horizonte e é assim que continuo a mexer os dedos! Pouco tenho trabalhado, mas é fase minha de busca intensa por ti, por louca doentia saudade. Sem mal, sem intenções, tu sabes.
Escasseia-me a dor, já.
A culpa é tua e não o sabes.
Falar contigo, O Outro Lado, é isto. O resto é barulho, mete os phones comigo.
E na parte de voltar para casa, vou outra vez a levar com a luz na tromba, com as memórias no peito, o suor nas mãos e o desejo de fugir para ti nas pernas.
Opá pronto, são assim os meus dias sem ti. Não te chateies, nunca é por mal.

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